quarta-feira, 3 de julho de 2013

ALCOOLISMO, SEU IMPACTO NA FAMÍLIA E O SERVIÇO SOCIAL



ALCOOLISMO, SEU IMPACTO NA FAMÍLIA E O SERVIÇO SOCIAL


RESUMO

O presente trabalho trata-se da questão do alcoolismo e seu impacto nas diversas esferas da sociedade. A justificativa pela escolha do tema se dá devido à importância que o consumo do álcool assumiu ao longo dos tempos em diversas esferas da vida social. Este estudo faz de maneira breve uma trajetória conceitual e histórica do que é o alcoolismo e o alcoólatra, e aborda o consumo do álcool ao longo da história da humanidade. O trabalho analisa a vulnerabilidades da família, cujo chefe é alcoólatra. Assim busca problematizar as relações familiares deste dependente, trazendo para debate o papel do assistente social neste contexto, que deve buscar o fortalecimento da família e o apoio aos indivíduos que se encontram em vulnerabilidade. Porém, verifica-se que há muitos desafios a serem vencido, um deles está na própria sociedade que valoriza o consumo de bebidas alcoólicas, elevando este a um conceito de “status”.

Palavras - chave: Álcool. Consumo. Dependência. Família. Desafios.


RESUMEN

En este trabajo se aborda el tema del alcoholismo y su impacto en los diferentes ámbitos de la sociedad. La justificación de la elección del tema se debe a la importancia que el consumo de alcohol ha tomado en los últimos años en diversos ámbitos de la vida social. Este estudio es una breve trayectoria conceptual e histórica de lo que es el alcoholismo y el alcohólico, y se analiza el consumo de alcohol a lo largo de la historia de la humanidad. El trabajo analiza la vulnerabilidad de la familia, cuyo jefe es un alcohólico. Simplemente busca problematizar estas relaciones familiares dependientes, con lo que para debatir el papel del trabajador social en este contexto, se debe buscar el fortalecimiento de la familia y el apoyo a las personas que se encuentran en vulnerabilidad. Sin embargo, resulta que hay muchos desafíos por superar, una es la misma sociedad que valora el consumo de bebidas alcohólicas, con lo que a un concepto de "status".

Palabras clave: Alcohol. Consumo. La dependencia. Familia. Desafíos.

INTRODUÇÃO

Desde o início dos tempos, nas sociedades, o homem tentou mudar o humor, as percepções e as sensações, através do uso de substâncias psicoativas[1]. Essas substâncias eram extraídas da natureza e utilizadas em ocasiões diversas.
Com a industrialização o uso de substâncias extraídas da natureza foi ampliado e com isso o aumento exagerado de consumo pelo homem. Nesse contexto, o uso de substâncias psicoativas assumiu novas funções, sendo preferido pelo indivíduo com algo que gera prazer, alívio de desconfortos físicos e de sofrimentos de caráter emocional. Entre essas substâncias configura-se o álcool, presente em uma infinidade de bebidas alcoólicas.
A bebida alcoólica é considerada por muitos estudiosos sobre o assunto como a bebida mais consumida pela humanidade desde seus primórdios. Seu uso está associado aos aspectos culturais em sociedade, sendo consumida, em situações e ocasiões diversas como: rituais religiosos, comemorações datas festivas de aniversários, casamentos, natal, ano novo, confraternizações de empresas, hap hours, entre outros.
De acordo com Bucher (1992), o álcool tem sido apontado como a droga mais consumida, ou pelo menos, experimentada no Brasil e o problema do consumo de bebidas alcoólicas encontra-se presente na sociedade, independente de classe social. Nesse contexto, Laranjeira e Pinsky (2001) alertam que consumo dessas bebidas alcoólicas ocorre de forma precoce no indivíduo, ou seja, ainda na adolescência, com grupos de amigos e até mesmo dentro de casa, inerente aos olhos da família. Esse tipo de prática pode levar ao consumo abusivo, com isso potencializando o problema do alcoolismo.
Quando o indivíduo torna-se dependente do álcool, a bebida pode gerar grande impacto social tanto na vida do alcoolista quanto de sua família. E nesse aspecto Kaloustian (2004) destaca que a família torna-se o meio principal do processo de recuperação de seus membros, sendo a família quem vai garantir a sobrevivência, desenvolvimento e proteção desses, independentemente dos arranjos em que essa família se encontra.
Cabe à família a incumbência de recuperação de seu membro alcoólico e muitas das, por falta de estrutura, essa luta se torna muito difícil. Portanto, essas famílias precisam contar com ações de políticas de assistência social existentes, que objetivam justamente a proteção e fortalecimento dessa estrutura familiar.

Metodologia

Portanto, o propósito da realização deste estudo, em linhas gerais, consiste em compreender melhor sobre o problema do alcoolismo e o seu impacto direto na estrutura familiar, vulnerabilizando a referida família. Cabe ainda refletir sobre as políticas sociais existentes na retomada de ações de fortalecimento dessas famílias.
O delineamento de estudo consiste em buscar literaturas sobre o assunto, através de material de pesquisa em: livros disponibilizados pela biblioteca da Instituição – UEMG/FUNEDI/ISED; artigos publicados; consultas pela Internet e uso de jornais e revistas.
Para a organização e desenvolvimento deste estudo, pretendeu apresentá-lo, iniciando com esta introdução que cumprirá o papel de nortear toda a dinâmica que subsidia a pesquisa em estudo.

As Definições de Alcoolismo e Alcoólatra

Segundo a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (BRASIL, 2010), o alcoolismo é uma situação de causa biológica primária e com história natural previsível.  De acordo com a Instituição Alcoólicos Anônimos (2005), o alcoolismo é caracterizado pela destruição do controle do indivíduo, prejudicando seu modo de viver.
Nos anos de 1950, foi incluído na literatura acadêmica que o alcoolismo é considerado um vicio, sendo que esse conceito estava fundamentado nas concepções médicas e leigas do século XIX de embriaguez como um vício. Em 1977, um Grupo de Pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007), reagindo ao uso amplo e diversificado da palavra alcoolismo, sugeriu substituí-lo pelo termo psiquiátrico “síndrome de dependência do álcool”. Devido à analogia com a dependência de drogas, a dependência de álcool tem encontrado aprovação geral nas atuais nosologias (BRASIL, 2010). Vários teóricos definem o alcoolismo como doença. Segundo Hoff (1996, p. 212) o alcoolismo pertence à categoria das enfermidades psiquiátricas, mas é mais comum e devastadora que estas. “Alcoolismo crônico está física e psicologicamente ligado à droga chamada álcool”.
            Por este conceito, pode-se entender que o alcoolismo é considerado uma doença psiquiátrica, porém mais destruidora que as demais doenças classificadas neste ramo da medicina, pois diante de sua abstinência o alcoólatra tem tremores, alucinações e medo irracional. Portanto o alcoólatra sente a necessidade de beber para evitar tais sintomas.
Conforme Souza (2002, p. 8), “o alcoolismo é uma doença, que já está comprovado cientificamente” [...] “porque o organismo do alcoólatra manifesta de forma alterada diante do álcool.” Kathleen Ross (2002, p. 10) coloca que “o alcoolismo é uma doença progressiva que se torna cada vez menos dentro dos padrões de quem bebe socialmente e cada vez mais uma obsessão particular”. Segundo a autora, está doença pode ser controlada, mas, porém são controlados por ela, e por fim tentam controlar todos que estão a sua volta. Pois finalmente, é uma doença de negação, na qual os bebedores se recusam em admitir que a bebida esteja destruindo as suas vidas. Infelizmente o álcool vai tomando espaço e gerando seqüelas para o alcoólatra, trazendo vários problemas para sua família e os que estão em sua volta. 
Todos os autores citados definem o alcoolismo como uma doença e explicitam de forma visível as conseqüências que a mesma gera sob o aspecto físico e psíquico seu usuário, bem como para seus familiares. Todavia, definir o alcoólatra não é fácil, pois quem bebe demasiadamente algumas vezes ou nos fins de semana pode não ser considerado um alcoólatra, quando este ainda é capaz de escolher a hora, o lugar ou a ocasião em que beberá. 
O alcoólatra para Hoff  (1996, p. 212) “é aquele que não pode deixar de beber todos os dias, ou que quando começa a beber, é incapaz de parar.” Conforme aponta o autor, o mesmo não sabe os seus próprios limites, o quanto pode beber, ou quando deve parar de ingerir bebida alcoólica. Sendo assim o vicio torna-se a atividade mais importante para o alcoólatra, impedindo o mesmo a freqüentar lugares ou ocasiões na qual a bebida não será servida. 
A medicina considera o alcoolismo uma doença progressiva que sempre provoca morte prematura. Esta enfermidade é muito complexa, pois afeta não somente a sua mente, mas todo o seu organismo, quer dizer, toda a sua consciência. Quando o indivíduo se torna alcoólatra ele se sente incapaz de abandonar o vício; e se o alcoólatra não receber ajuda será quase impossível deixar de ingerir álcool.
Considera-se que o alcoolismo, que vem a ser um grande problema social, é visto como uma toxicomania pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1970), que a conceitua como:

Um estado psíquico e algumas vezes também físico. Resultante da interação entre um organismo vivo e uma substância, caracterizado por um comportamento e outras reações que incluem sempre compulsão para ingerir a droga, de forma contínua ou periódica, com a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e às vezes para evitar o desconforto de sua abstinência. A tolerância pode existir ou faltar e o indivíduo pode ser dependente de mais de uma droga. (OMS, 1970, p.7)

Essa conceituação refere-se à toxicomania ou fármaco-dependência. Nesse caso o alcoolismo tem caráter ou sinais distintos, pois se verifica que o alcoólatra tende a aumentar as doses ingeridas gradativamente e quando interrompe completa ou bruscamente a ingestão de álcool, apresenta o grave conjunto de sinais e sintomas físico-psíquicos que caracterizam a Síndrome de Abstinência Alcoólica (ressaca). A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou as seguintes definições de alcoolismo e de alcoólatra:

Alcoolismo é uma doença de natureza complexa, na qual o álcool atua como fator determinante sobre causas psicossomáticas preexistentes no indivíduo e para cujo tratamento é preciso recorrer a processos profiláticos e terapêuticos de grande amplitude.
(...) Alcoólatras são bebedores excessivos, cuja dependência do álcool chega a ponto de acarretar-lhes perturbações mentais evidentes, manifestações que afetam a saúde física e mental, suas reações individuais, seu comportamento sócio-econômico ou pró-domos de perturbações desse gênero e que, por isso, necessitam de tratamento. (OMS, 1970, p.2)

Ocorreram algumas alterações nesse conceito na atualidade, passando-se a chamar os usuários "bebedores - problema" e os dependentes de álcool "alcoolistas" (BRASIL, 1990). É importante destacar que a palavra alcoolismo foi usada pela primeira vez em 1856 pelo médico sueco Magnus-Huss, para determinar os sinais e sintomas físico-psíquicos oriundos da excessiva ingestão de doses e por tempo prolongado (FORTES, 1975).
Segundo Jellinek (apud FORTES, 1975), um dos mais brilhantes pesquisadores do "Yale Center of Alcohol Studies", o alcoolismo é qualquer uso de bebidas alcoólicas que ocasiona prejuízos ao indivíduo, à sociedade ou a ambos. Masur (1984) tem a certeza de que o alcoolismo é uma doença, na medida em que envolve um estado de dependência tão grande que leva a um prejuízo físico e/ou interpessoal e estabelece a sua existência à perda da liberdade sobre o ato de beber.
Há controvérsias, em relação às causas do alcoolismo. Alguns autores aceitam os sintomas da intoxicação crônica pelo álcool como sendo roupagens que escondem ou disfarçam uma personalidade mórbida. Não haveria propriamente alcoolismo primário, sendo os casos relatados como alcoolismo secundários a "algo" subjacente à personalidade do paciente. Em outras palavras, o indivíduo normal nunca se tornaria um alcoolista crônico. Sempre haveria necessidade da existência de um fator ligado a uma personalidade mórbida (FORTES, 1975).
            Pacheco e Amaral (apud FORTES, 1975), analisando internações motivadas por alcoolismo, assinalaram o importante contingente representado pelo alcoolismo secundário. Contrário a esse ponto de vista, Mayer-Gross (1958) apud Fortes (1975) relata que nem todos os alcoólatras teriam personalidade fortemente predisposta e argumenta que a massa de alcoolistas não provém unicamente deste ou daquele grupo em particular, constituindo sempre um grupo muito heterogêneo.
Já Sonnenreich (1971, apud Fortes (1975) defende que o alcoolismo é uma doença adquirida à revelia de quaisquer predisposições psicossomáticas preexistentes: é decorrente do uso contínuo do próprio álcool. Masur (1984) aponta que não ha uma resposta breve, clara e convincente; existem várias tentativas de respostas, como a vulnerabilidade biológica, a psicológica e a social. Isto partindo da premissa de que todos que bebem têm potencialmente a possibilidade de se tornar alcoolistas. A maior ou menor probabilidade vai depender da interação entre os diferentes fatores da vulnerabilidade.
Sendo assim, parece não haver uma causa única ou isolada, pois o ato de beber pode resultar de uma variedade de inter-relações de influências. Cada pessoa repercute de forma diferente com a ingestão de álcool (CERVESATO, 1993).

O Alcoolismo ao Longo da História

Segundo Mechetti (2003) relata que foi na Pré-História que teve início a bebida alcoólica precisamente durante o período Neolítico, na época da invenção da cerâmica e o surgimento da agricultura.
Há 10.000 anos o ser humano passou a ingerir e a atribuir diferentes significados ao uso do álcool no qual tinha um processo de fermentação natural. Na época os povos celtas, gregos, romanos, egípcios e babilônios registraram de alguma forma o consumo e a produção de bebidas alcoólicas (MECHETTI, 2003). A própria Bíblia no livro de Gênesis (9-21) aponta que Noé, após o dilúvio plantou vinha, fazendo o vinho, bebendo a ponto de se embriagar, tendo se despido e desmaiado (BIBLIA SAGRADA, 1985).

Grécia e Roma

Segundo Mechetti, (2003), os gregos e romanos por outro lado conheciam a fermentação do mel e da cevada, mas o vinho era a bebida mais divulgada nos dois impérios, possuindo grande valia religiosa, medicamentosa e social. Pois o solo e o clima na Grécia e Roma serem específicos e ricos para o cultivo da uva e produção do vinho.
Mechetti (2003) relata que embora o vinho participe ativamente das celebrações sociais e religiosas greco-romanas, e que os abusos de álcool já eram severamente censurados pelos dois povos. O dramaturgo grego Eurípedes (484 a.C. - 406 a.C.) no período da Grécia Antiga relata nas Bacantes duas divindades de primeira grandeza para os humanos: Deméter, a deusa da agricultura criava os alimentos sólidos para alimentar os humanos, e Dionísio, o Deus do vinho e da festa (Baco para os Romanos). Observa-se que nesta época havia povos que não aceitavam os abusos do álcool (MECHETTI, 2003).

Idade Média
           
Durante este período à comercialização do vinho e a cerveja cresceu demasiadamente, assim como sua regulamentação. Pois a intoxicação alcoólica (bebedeira) deixa de ser reprovada pela igreja e passa a ser um pecado ponderado por esta instituição (MECHETTI, C. 2003).
A modernidade instaurou a liberdade e autonomia para os indivíduos, fazendo com que a Igreja ocidental perdesse parte significativa do controle das pessoas. Para Mechetti (2003), os cabarés e as tabernas tornaram-se locais onde os indivíduos podiam divulgar se livremente e onde o uso de álcool participava dos debates políticos que mais tarde vão provocar a Revolução Francesa.
O fim do século XVIII e o início da Revolução Industrial são acompanhados de alteração demográficas e de condutas sociais na Europa, com significativo aumento populacional. A partir desta fase que o uso exagerado de bebida passa a ser aceito por alguns como uma doença ou motim (JEROME, 1993).
Segundo Martins (1982, apud. JEROME, 1993) a Revolução Industrial provocou a emigração de milhares de operários rurais que foram esquecidos nas cidades que não possuíam qualquer suporte. Quando conseguiam serviços eram subordinados às longas jornadas de trabalho cuja duração era altamente maléfico. Nesses períodos vários operários adoeciam de cólera, tuberculose e alcoolismo no qual eram bastante comuns (MARTINS, 1982 apud. JEROME, 1993). Assim lançados no mundo urbano e distantes de seus vínculos sociais rurais, submetidos às precárias jornadas de trabalho, os trabalhadores passaram a apresentar dentre outros males, o alcoolismo.
Com a elevação do consumo de álcool, a partir do século XX, países como a França passaram estabelecer limites para o seu consumo, estabelecendo a idade mínima de 18 anos para sua ingestão. A partir de 1920 os Estados Unidos da América decretaram a chamada Lei Seca que teve duração de quase 12 anos. A Lei Seca proibia a fabricação, transporte, venda troca, importação, exportação, distribuição, posse e consumo de bebida alcoólica. Para a economia americana e para a saúde pública foi considerada um desastre (TTB.GOV, 2012).
Em 1952 o alcoolismo passou a ser tratado como doença (JEROME, 1993). No ano de 1967 a Organização Mundial de Saúde estabeleceu a Classificação Internacional das Doenças 1967, tendo o alcoolismo o CID-8, incluindo assim o alcoolismo no rol de doenças (GEORGE, 1983, p.2). De acordo com CID-8, os problemas relacionados ao uso de álcool foram introduzidos dentro de uma classe mais ampla desordem de personalidade e de neuroses (NIAAA, 1995).
Esses problemas foram divididos em três classes: dependência, episódios de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual.
A dependência em termos gerais, o estado de necessidade ou subordinação de alguma coisa ou alguém para apoio, funcionamento ou sobrevivência. Quando sobreposto ao álcool e outras drogas, o termo implica a necessidade de repetidas doses da droga para sentir-se bem ou para evitar sensações ruins. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Classificação Estatística Internacional de Doença e Problema Relacionado à Saúde (USP, 2000), a dependência é:

                                      Um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais, psicológicos              indicando que indivíduo tem o controle do uso da substância psicoativo     causando dano e persiste nesse uso a despeito de conseqüências oposta.

            O excesso algumas vezes utilizado de modo desaprovativo para determinar qualquer tipo de uso, particularmente o de drogas ilícitas. Devido à sua ambigüidade, o termo não é usado na 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da seguinte forma:

-          Beber intenso: definido em termos de ultrapassar certo volume diário (por exemplo, 3 doses diárias) ou determinadas quantidades (exemplo, 5 doses por ocasião, pelo menos uma vez por semana).
-          Beber moderado: significa beber quantidades moderadas e que não causam problemas.
-          Beber para esquecer: é determinado por um desejo ou necessidade de livrar de uma condição ou estado de humor desagradável. São vários motivos como uso de álcool por motivos pessoais ou oposição a motivos sociais, para suportar a situação ou beber para “afogar as mágoas”.  

A concepção de dependência ultrapassa o padrão moral, considerando que beber excessivamente caracteriza-se como falta de caráter e até mesmo o padrão de doença “alcoolismo”. Observou-se neste capítulo que a ingestão de álcool acompanha a humanidade desde os tempos antigos e no capítulo seguinte serão feitas análises sobre a economia do álcool e o impacto do álcool na saúde, no trabalho, no trânsito e na família.

As Vulnerabilidades da Família no Contexto do Alcoolismo

O consumo de álcool parece ser o hábito social mais antigo e disseminado entre as populações, pois ele está associado a ritos religiosos e lhe é atribuída uma variedade de efeitos, tais como calmante, afrodisíaco, estimulante do apetite, desinibidor e outros. Seu uso vem desde a pré-história. Porém, somente neste século, foram realizados estudos mais sistematizados, voltando-se para os problemas que o consumo de álcool vem ocasionando às populações (CARDIN et al, 1986).
O álcool pode ser proveniente de plantas de fácil cultivo como cevada, uvas, grãos de cereais e outros, que passarão por processos de fermentação e destilação, tornando-se a droga psicoativa mais consumida de todos os tempos. Por exemplo, o vinho ou similar, que desde a antigüidade é indispensável a comemorações, em momentos de alegria, ou como companheiro das desilusões (MASUR, 1984).
Sendo assim os problemas relacionados ao consumo de álcool normalmente exercem profundo efeito sobre a família do alcoólatra. De modo que se cria uma espécie de ressonância comportamental. O alcoólatra se torna gradativamente o centro das preocupações familiares. Para Ross (2002, p 13) “na medida em que os membros da família tentam, em vão, implicar, enganar ou forçar a parar de beber. As esposas se tornam obsessivas em conferir o conteúdo de cada uma das garrafas do armário de bebidas”.

As conseqüências para os filhos são significativas: “Se os pais forem alcoólatras ou beberem uns tragos a mais e aí forem educar seus filhos, não tenham dúvidas que os excessos praticados também deixarão marcas de revoltas nos filhos” (COLLINS, 1992, p. 312).  Os filhos serão muito mais afetados pela convivência com pais alcoólatras, eles experimentarão negação, culpa pressões para não aborrecer seus pais, que procurará qualquer desculpa para ingerir álcool.
Se por outro lado os pais não derem carinho, amor e atenção para os filhos, ou forem violentos, os filhos também podem começar a consumir álcool.

A permissividade e rejeição por parte dos pais estimulam o uso e abuso de tóxicos.    Quando os pais não se importam se os filhos bebem ou não, não existe preocupação quando aos perigos das drogas ou álcool e o abuso logo se segue. Se os pais negligenciam os filhos ou os castigam demasiadamente, estes se rebelam. “A delinqüência, uso excessivo de tóxicos e alcoolismo são comuns nesses casos”.  (COLLINS, 1992, p.315).

O alcoolismo reivindica mais vítimas. A auto-imagem e a imagem da família se tornam deturpadas devido ao comportamento tanto do dependente, quanto do co-dependente.  Vendo esta realidade os filhos dizem “isso nunca acontecerá comigo”, ou que não irá se casar com um alcoólatra. Mas segundo Black “Entre cinqüenta e sessenta por cento dos alcoólatras tiveram pai ou mãe alcoólatra, e um número surpreendente de filhos de alcoólatras casam-se com alcoólatras”.  (BLACK, apud ROSS, 2002, p. 19). 
O ambiente na casa de uma família alcoólica e a forma como os membros da família interatuam podem contribuir para o risco de problemas observados em filhos de alcoólicos. Apesar de as famílias alcoólicas serem um grupo heterogêneo, as características comuns do grupo foram identificadas. As famílias de alcoólicos têm baixos níveis de coesão familiar, expressividade, independência, e orientação intelectual e níveis elevados de conflito comparado com famílias não alcoólicas. Algumas características, contudo, não são específicas de famílias alcoólicas: a fraca capacidade de resolver problemas e a comunicação hostil é observada tanto em famílias alcoólicas como em famílias com outros problemas sem ser o álcool. Além disso, as características das famílias com membros em recuperação alcoólica e das famílias com membros não alcoólicos não diferem significativamente, sugerindo que a continuação do consumo de álcool pelos pais pode ser responsável pela separação da vida familiar num lar alcoólico.
O ambiente familiar também pode afetar a transmissão do alcoolismo aos filhos de alcoólicos. As crianças de pais alcoólicos têm menos probabilidades de se tornarem alcoólicos em adultos quando os seus pais constantemente determinaram e seguiram os planos e mantiveram estipuladas as férias e a regularidade das horas das refeições.
Sendo assim alcoolismo é uma doença da família, isso não significa que os cônjuges e os filhos gerem a doença, qualquer um, mais do que os membros da família, pode ser culpado por causar doenças físicas. O que significa que a família de um alcoólatra é mais vítima e torna os componentes da mesma, pouco saudáveis e parte de uma família de função defeituosa ou doente.  Certamente, vários alcoólatras tentam culpar as pessoas da família pelo próprio alcoolismo. Infelizmente as marcas de viver com um alcoólatra ficam mesmo depois de divorciar-se ou do filho sair de casa. As seqüelas deixadas na auto-imagem e para paz da mente cicatrizam lentamente. Isso se for tratada com assistência de terapeutas ou especialistas.
Além disso, logo que o indivíduo começa a ser alcoólatra a família torna-se viciada nos papéis que eles desempenham na família. Tornando-se desta maneira co-dependentes e ou co-alcoólatras dando seqüência às reações não saudáveis, das quais não conseguem libertar-se.
Segundo Bertolote no Glossário de Álcool e Drogas (BRASIL, 2010) a co-dependente é um parente, amigo próximo ou colega de uma pessoa alcoolista ou dependente de droga cujas reações são definidas por este termo como tendendo a perpetuar a dependência daquela pessoa e daí retardarem o processo de recuperação. No início dos anos 1970, os termos co-alcoolista e co-alcoolismo passaram a ser usados entre os que se tratavam de alcoolismo nos EUA, para caracterizar parentes próximos de alcoolistas (inicialmente a esposa, em especial). Com a mudança na terminologia de alcoolismo para dependência de álcool, os temos co-dependente direto e co-dependência passou a ser usados também para se referir aos parentes dos dependentes de outras drogas. O uso do termo implica uma necessidade de tratamento ou ajuda, e há quem proponha classificar a co-dependência como um transtorno psiquiátrico. O termo é também usado atualmente no sentido figurado para se referir à comunidade ou sociedade que age como um facilitador da dependência de álcool ou droga.
Portanto é necessário focar a análise não só no alcoólatra, mas em todos os envolvidos.

O Papel do Assistente Social no Tratamento do Alcoolismo

O Serviço Social é caracterizado como a profissão de intervenção na realidade humana e social. O Assistente social é o profissional que tem em mente o bem-estar coletivo e a integração do indivíduo na sociedade.
O atendimento ao dependente pode ser realizado em grupo e para que compartilhem seus problemas, medos e angústias. Ao mesmo tempo, amplia seus conhecimentos sobre o alcoolismo, criando-se um espaço terapêutico que possibilite a reflexão, o que provavelmente possibilitará a modificação de alguns comportamentos (FELIX, 2009).
O assistente social nos aspectos que dizem ao alcoolismo pode trabalhar como um orientador em questões de cunho sociabilizado e de caráter que se integra este indivíduo a sociedade. O profissional de serviço social atuará em diferentes campos onde haja a necessidade do mesmo. No âmbito familiar é eficaz a presença do assistente social para orientar os demais participantes dessa comunidade a entenderem o problema, aproximando-os do dependente, que muita das vezes é rejeitada pela própria família, e também não conhece os tratamentos existentes para o problema do alcoolismo. Cabe, então, ao assistente social a orientação e o encaminhamento do dependente, mas relacionando o tratamento com o apoio familiar, que é tão importante (CASTRO, 2009).
O papel do assistente social não se remete apenas ao caráter familiar. Algumas empresas contratam assistentes sociais para estabelecer um serviço de assistência social de orientação aos funcionários que possuam envolvimento com álcool. Esse trabalho, direcionado ao público que acaba por prejudicar seu desenvolvimento nas atividades dentro da empresa por causa do consumo de álcool, são assistidos de forma a solução do problema. Cabendo ao assistente social o encaminhamento do dependente ao tratamento, e também forma de prevenção do problema como exemplo a realização de palestras e debates (PINHEIRO, 2004).
A motivação do assistente social quando trabalha com o dependente seja de álcool, seja de outras substancia química, a sua reinserção e seu reajuste na sociedade. Não restringindo o seu trabalho apenas a orientação ao tratamento, mas também posterior a isso, como é ocaso do auxílio ao ex-dependente à procura de emprego, cursos e outras formas de inserção na comunidade que este participa.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

A razão de popularidade que o álcool ganhou através dos tempos, deve-se aos novos padrões de consumo pós-moderno, que atribuem um valor “simbólico” às bebidas alcoólicas. Uma vez que existe uma interligação entre o prazer de beber pelos efeitos do álcool e ao prazer do consumo, também existe uma intenção de projetar nas bebidas um “status”, o que permite aos seus consumidores “estar na moda”, e a publicidade tem um papel fundamental na divulgação destes conceitos.
Porém apesar das suas conseqüências desastrosas, o ato de beber pode ser considerado também parte fundamental do convívio social, dificultando muito das vezes as campanhas de conscientização (muito aquém do necessário também). È no extremo do ato de beber, que encontramos aqueles que se tornam dependentes do álcool, que devem contar com o apoio e compreensão da sociedade para sua recuperação, que deve abandonar o preconceito e tratá-los com respeito.
Verificou-se neste trabalho que o alcoolismo não atinge apenas o alcoólico, mas, toda a família, relações de trabalho e a sociedade. A família sendo o grupo mais próximo, é a primeira a sofrer os impactos da doença em todos os sentidos. Porém os danos causados pela doença são muito sérios quando analisados em sua totalidade, e as conseqüências são constatadas pelo alto índice de violência e criminalidade, advindas do estado de embriagues provado pelo alcoolismo.
Assim, o alcoolismo deve ser visto de maneira diferenciada, não apenas como uma patologia psicológica, mas sim, dentro de um contexto social, pois é uma doença que tem repercussões sociais fortes. Sendo, o Assistente Social um profissional capacitado para lidar com as demandas sociais, abrangendo tanto questões ligadas à própria sobrevivência, quantas questões voltadas a valores e comportamentos. O Assistente Social enquanto um mediador estabelece uma relação entre a sociedade e os alcoólicos, que foi rompida devido ao problema do alcoolismo, que acaba deixando à margem da sociedade esse indivíduo, atuando sempre para promover a sua reintegração.
Além desta mediação, o assistente social deve buscar transformar seu cotidiano em uma pratica investigativa, propondo mudanças que busquem a avaliação das políticas sociais, desenvolvendo estratégias que contemplem a elaboração de projetos e programas de diagnóstico, prevenção e tratamento do alcoolismo. 
            Dentro dessa lógica se faz necessário uma formação continuada desse profissional para atender, cada vez mais, e melhor a população que sofre com esse mal da sociedade moderna, que expressado pelos números destacados no presente estudo, demonstra um problema que está longe de ter seu fim.


REFERÊNCIAS

1.      ALCOÓLICOS ANÔNIMOS. São Paulo: Símbolos S.A. Indústrias Gráficas, 2005.

2.      BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Paulus, 1985.

3.      BRASIL (1990). Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle dos Problemas Relacionados com o Consumo de Álcool - PRONAL. Brasília: MS/Disan, 1990.

4.    BRASIL (2010). Glossário de álcool e drogas / Tradução e notas: J. M. Bertolote. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010.

5.      BUCHER, R. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

6.      CARDIN, M. S. et. AL. (1986). Epidemiologia descritiva do alcoolismo em grupos populacionais do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 2:191-211.

7.      CASTRO, N. S (2009). Intervenção do Serviço Social junto à Família de alcoolista.Disponível:<http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/ monografias/alcoolista.pdf.>. Acesso em 02 out. 2012.

8.      CERVESATO, A. C. Z. (1993). Alcoolismo: como conhecer e tratar. Jornal dos Psicólogos da Saúde em Pernambuco, Recife. Ano I, n° 2.

9.      COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. São Paulo: Edições vida Nova, 1992.

10.  FÉLIX, M. S (2009). Alcoolismo & Serviço Social: Um trabalho concomitante. Disponível em: <http://www.cpihts.com>. Acesso em: 02 set. 2012.

11.  FORTES, J. R. de A. Alcoolismo. São Paulo: Savier, 1975.

12.  HOFF, Paul. O Pastor como Conselheiro. São Paulo: Vida 1996.
13.  JEROME, H.J. (1993). O conceito de dependência: Reflexões Histórico. Saúde Álcool e Mundial Research. 17. 188-190.

14.  KALOUSTIAN, S. M. (org). Família Brasileira a Base de Tudo. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004.

15.  LARANJEIRA, R.; PINSKY, I. Conhecer e enfrentar: Alcoolismo. 7.ed. São Paulo: Contexto, 2001.

16.  MASUR, J. & JORGE, M. R. (1986). Dados relacionados a bebidas alcoólicas e alcoolismo no Brasil: uma revisão. Revista ABP-APAL, 8:157-165.

17.  MASUR, J. A Questão do Alcoolismo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984.

18.  MECHETTI, C. (2003). Histoire de l'temps modernes alcool les partie 2. Disponivel em:<www.alcoologie.org/documentation/article.php3?id_article=121>. Acesso em: 03 set. 2012.

19.  NIAAA. Critérios diagnósticos para o abuso ea dependência - Instituto Nacional de Abuso do Álcool e Alcoolismo (NIAAA) - Alerta de Álcool, n º 30, de 1995.

20.  OMS (1970). Comitê de Expertos de la OMS em Farmacodependencia. Genebra: OMS, 1970. Serie de Informes Técnicos 437.

21.  OMS (2007). Organização Mundial da Saúde. Global Road Safety Partnershio, 2007.

22.  PINHEIRO, LETÍCIA. Alcoolismo no trabalho. São Paulo: Garamond, 2004.

23.  ROSS, Kathleen. Alcoolismo Como lidar com o problema. São Paulo: Connection Books, 2002.

24.  SOUZA, Sérgio. A pessoa que você ama bebe demais. Petrópolis – SP: Editora Voz, 2002.

25.  TTB. GOV. (2012). História do Álcool. Álcool e Tabaco e Imposto Bureau do Comércio. Disponível em:<http://www.ttb.gov/alcohol/history.htm>. Acesso em: 01 ot. 2012.

 26 USP (2000). Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10 a. Revisão. (CID-10). Vol. 1. São Paulo: Editora da USP, 2000


[1] De acordo com Bucher (1998), se entende por substâncias psicoativas como sendo produtos químicos, de origem natural ou de laboratório, que produzem efeitos sentidos como prazerosos, sobre o Sistema Nervoso Central. Estes resultam em alterações na mente, no corpo e na conduta.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Quando e como necessidade/carência são direitos

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Artigo 22.º
1.      Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.
Artigo 25.º
  1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
  2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.
Para mim é quando falta tudo:
1. Necessidades fisiológicas
Estas são as necessidades mais básicas, mais físicas (água, comida, ar, sexo, etc.). Quando não temos estas necessidades satisfeitas ficamos mal, com desconforto, irritação, medo, doentes. Estes sentimentos e emoções nos conduzem à ação na tentativa de diminuí-las ou aliviá-las rapidamente para estabelecer o nosso equilíbrio interno. Uma vez satisfeitas estas necessidades nós abandonamos estas preocupações e passamos a nos preocupar com outras coisas.
2. Necessidades de segurança
No mundo conturbado em que vivemos procuramos fugir dos perigos, buscamos por abrigo, segurança, proteção, estabilidade e continuidade. A busca da religião, de uma crença deve ser colocada neste nível da hierarquia.
3. Necessidades sociais
O ser humano precisa amar e pertencer. O ser humano tem a necessidade de ser amado, querido por outros, de ser aceito por outros. Nós queremos nos sentires necessários a outras pessoas ou grupos de pessoas. Esse agrupamento de pessoas pode ser a antiga tribo, ou a tribo (grupo) atual, no seu local de trabalho, na sua igreja, na sua família, no seu clube ou na sua torcida. Todos estes agrupamentos fazem com que tenhamos a sensação de pertencer a um grupo, ou a uma "tribo". Política, religião e torcida são as tribos modernas.
4. Necessidades de "status" ou de estima
O ser humano busca ser competente, alcançar objetivos, obter aprovação e ganhar reconhecimento. Há dois tipos de estima: a auto-estima e a hetero-estima. A auto-estima é derivada da proficiência e competência em ser a pessoa que se é, é gostar de si, é acreditar em si e dar valor a si próprio. Já a hetero-estima é o reconhecimento e a atenção que se recebe das outras pessoas.
Sendo assim não é difícil reconhecer que todas as pessoas humanas têm estas necessidades e por esse motivo, como todas as pessoas são iguais – uma não vale mais do que a outra, uma não vale menos do que a outra – reconhecemos também que todos devem ter a possibilidade de satisfazer estas necessidades e outras mais.
Um ponto deve ficar claro, desde já: a afirmação da igualdade de todos os seres humanos não quer dizer igualdade física nem intelectual ou psicológica. Cada pessoa humana tem sua individualidade, sua personalidade, seu modo próprio de ver e de sentir as coisas.
Assim, também, os grupos sociais têm sua cultura própria, que é resultado de condições naturais e sociais. Um grupo humano que sempre viveu perto do mar será diferente daquele que vive, tradicionalmente, na mata, na montanha ou numa região de planícies. Do mesmo modo, os costumes e as relações sociais da população de uma grande metrópole não serão os mesmos da população de uma cidadezinha pobre do interior, distante e isolada dos grandes centros. Da mesma forma, ainda, a cultura de uma população predominantemente católica será diferente da cultura de uma população muçulmana ou budista.
Em tal sentido as pessoas são diferentes, mas continuam todas iguais como seres humanos, tendo as mesmas necessidades e faculdades essenciais. Disso decorre a existência de direitos fundamentais, que são iguais para todos.
Todas as pessoas nascem essencialmente iguais e, portanto, com direitos iguais. Mas ao mesmo tempo em que nascem iguais todas as pessoas nascem livres. Essa liberdade está dentro delas, em sua inteligência e consciência. É evidente que todos os seres humanos acabarão sofrendo as influências da educação que receberem e do meio social em que viverem, mas isso não elimina sua liberdade essencial. É por isso que muitas vezes uma pessoa mantém um modo de vida até certa idade e depois muda completamente. Essa pessoa estava vivendo sob certas influências, mas continuava livre e num determinado momento decidiu usar sua liberdade para mudar de rumo.
Concluo que, pois, é preciso ter sempre em conta que todas as pessoas nascem com os mesmos direitos fundamentais. Não importa se a pessoa é homem ou mulher, não importa onde a pessoa nasceu nem a cor da sua pele, não importa se a pessoa é rica ou pobre, como também não são importantes o nome de família, a profissão, a preferência política ou a crença religiosa. Os direitos humanos fundamentais são ao mesmo tempo para todos os seres humanos. E esses direitos continuam existindo mesmo para aqueles que cometerem crimes ou praticam atos que prejudicam as pessoas ou a sociedade. Nesses casos, aquele que praticou o ato contrário ao bem da humanidade deve sofrer a punição prevista numa lei já existente, mas sem esquecer que o criminoso ou quem praticou um ato anti-social continua a ser uma pessoa humana.
BIBLIOGRAFIA

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Homossexualidade na antiguidade


História e Literatura

Homossexualidade na antiguidade

Na Antiguidade não exista o preconceito de gays. Porque milhares de anos atrás o sexo entre iguais já era tão comum que não existia nem o conceito de homossexualidade.
A união civil entre pessoas do mesmo sexo pode parecer algo bastante recente, coisa de gente moderna. Mas não é nada disso. O homossexualismo não tem nada de novo, é tão velha quanto à humanidade. Sua história retoma um tempo em que não havia necessidade de distinguir o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo – para os povos antigos, o conceito de homossexualidade simplesmente não existia.
As tribos das ilhas de Nova Guiné, Fiji e Salomão, no oceano Pacífico, cerca de 10 mil anos atrás já exercitavam algumas formas de homossexualidade ritual. Os melanésios acreditavam que o conhecimento sagrado só poderia ser transmitido por meio do coito entre duplas do mesmo sexo. No rito, um homem travestido representava um espírito dotado de grande alegria – e seus trejeitos não eram muito diferentes dos de um show de drag que atua.
Um dos mais antigos e importantes conjuntos de leis do mundo, elaborado pelo imperador Hammurabi na antiga Mesopotâmia em cerca de 1750 a.C., contém alguns privilégios que deveriam ser dados aos prostitutos e às prostitutas que participavam dos cultos religiosos. Eles eram sagrados e tinham relações com os homens devotos dentro dos templos da Mesopotâmia, Fenícia, Egito, Sicília e Índia, entre outros lugares. Herdeiras do Código de Hammurabi, as leis hititas chegam a reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo. E olha que isso foi há mais de 3 mil anos.
Na Grécia e na Roma da Antiguidade, era absolutamente normal um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem. O filósofo grego Sócrates (469-399), adepto do amor homossexual, pregava que o coito anal era a melhor forma de inspiração – e o sexo heterossexual, por sua vez, servia apenas para procriar. Para a educação dos jovens atenienses, esperava-se que os adolescentes aceitassem a amizade e os laços de amor com homens mais velhos, para absorver suas virtudes e seus conhecimentos de filosofia. Após os 12 anos, desde que o garoto concordasse, transformava-se em um parceiro passivo até por volta dos 18 anos, com a aprovação de sua família. Normalmente, aos 25 tornava-se um homem – e aí se esperava que assumisse o papel ativo.

Crescei e multiplicai-vos

O judaísmo já pregava que as relações sexuais tinham como único fim a máxima exigida por Deus: “Crescei e multiplicai-vos”. Até o início do século 4, essa idéia, porém, ficou restrita à comunidade judaica e aos poucos cristãos que existiam. Nessa época, o imperador romano Constantino converteu-se à fé cristã – e, na seqüência, o cristianismo tornou-se obrigatório no maior império do mundo. Como o sexo passou a ser encarado apenas como forma de gerar filhos, a homossexualidade virou algo antinatural. Data de 390, do reinado de Teodósio, o Grande, o primeiro registro de um castigo corporal aplicado em gays.
O primeiro texto de lei proibindo sem reservas a homossexualidade foi promulgado mais tarde, em 533, pelo imperador cristão Justiniano. Ele vinculou todas as relações homossexuais ao adultério – para o qual se previa a pena de morte. Mais tarde, em 538 e 544, outras leis obrigavam os homossexuais a arrepender-se de seus pecados e fazer penitência. O nascimento e a expansão do islamismo, a partir do século 7, junto com a força cristã, reforçaram a teoria do sexo para procriação.
Durante muito tempo, até meados do século 14, no entanto, embora a fé condenasse os prazeres da carne, na prática os costumes permaneciam os mesmos. A Igreja viu-se, a partir daí, diante de uma série de crises. Os católicos assistiram horrorizados à conversão ao protestantismo de diversas pessoas após a Reforma de Lutero. E, com o humanismo renascentista, os valores clássicos – e, assim, o gosto dos antigos pela forma masculina – voltaram à tona. Pintores, escritores, dramaturgos e poetas celebravam o amor entre homens. Além disso, entre a nobreza, que costumava ditar moda, a homossexualidade sempre correu solta. E, o mais importante, sem censura alguma – ficou notório os casos homossexuais de monarcas como o inglês Ricardo Coração de Leão (1157-1199).
No curto intervalo entre 1347 e 1351, a peste negra assolou a Europa e matou 25 milhões de pessoas. Como ninguém sabia a causa da doença, a especulação ultrapassava os limites da saúde pública e alcançava os costumes. O “pecado” em que viviam os homens passou a ser apontado como a causa dela e de diversas outras catástrofes, como fomes e guerras. Judeus, hereges e sodomitas tornaram-se a causa dos males da sociedade. Não havia outra solução a não ser a erradicação desses grupos. Medidas enérgicas foram tomadas. Em Florença, por exemplo, a sodomia foi proibida em 1432, com a criação dos Ufficiali di Notte (agentes da noite). O resultado? Setenta anos de perseguição aos homens que mantinham relações com outros. Entre 1432 e 1502, mais de 17 mil foram incriminados e 3 mil condenados por sodomia, numa população de 40 mil habitantes.
Leis duras foram estabelecidas em vários outros países europeus. Na Inglaterra, o século 19 começou com o enforcamento de vários cidadãos acusados de sodomia. E, entre 1800 e 1834, 80 homens foram mortos. Apenas em 1861 o país aboliu a pena de morte para os atos de sodomia, substituindo-a por uma pena de dez anos de trabalhos forçados.
            Para a ciência a homossexualidade era um problema de saúde mental. Por isto na Suécia 3 mil gays foram lobotomizados. Na Dinamarca, 3500 – a última cirurgia foi em 1981. Nos Estados Unidos, cidadãos portadores de “disfunções sexuais” lobotomizados chegaram às dezenas de milhares. O tratamento médico era empregado porque homossexualidade passou a ser vista como uma doença, uma espécie de defeito genético.   
A situação só começou a mudar no fim do século passado, quando a discussão passou a se libertar de estigmas. Em 1979, a Associação Americana de Psiquiatria finalmente tirou a homossexualidade de sua lista oficial de doenças mentais. Na mesma época, o advento da aids teve um resultado ambíguo para os homossexuais. Embora tenha ressuscitado o preconceito, já que a doença foi associada aos gays a princípio, também fez com que muitos deles viessem à tona, sem medo de mostrar a cara, para reivindicar seus direitos. Durante os anos 80 e 90, a maioria dos países desenvolvidos descriminalizou a homossexualidade e proibiu a discriminação contra gays e lésbicas. Em 2004, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos invalidou todas as leis estaduais que ainda proibiam a sodomia.
“Em toda a história e em todo o mundo a homossexualidade tem sido um componente da vida humana”, escreveu William Naphy, diretor do colégio de Teologia, História e Filosofia da Universidade de Aberdeen, Reino Unido, em Born to Be Gay – História da Homossexualidade. “Nesse sentido, não pode ser considerada antinatural ou anormal. Não há dúvida de que a homossexualidade é e sempre foi menos comum do que a heterossexualidade. No entanto, a homossexualidade é claramente uma característica muito real da espécie humana.” Para muitos, ainda hoje sair do armário continua sendo uma questão de tempo. As portas, no entanto, vêm sendo abertas desde a Antiguidade.
Personalidades que não escondiam suas preferências
O que tinham em comuns pessoas como os imperadores Adriano e Nero, o filósofo Sócrates, o artista e inventor Leonardo da Vinci? Todos eles mantiveram relações sexuais com pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade experimentou ao longo da história da humanidade diversos altos e baixos. De comportamento absolutamente natural, passou a ser “pecado” e até a ser crime. Aqui, algumas histórias de personalidades que amaram seus iguais.
Alexandre, o Grande
O conquistador Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), também foi conquistado. Seu amante era Hefastião, seu braço direito e ocupante de um importante posto no Exército. Quando ele morreu de febre, na volta de uma campanha na Índia, Alexandre caiu em desespero: ficou sem comer e beber por vários dias. Mandou proporcionar a seu amado um funeral majestoso: os preparativos foram tantos que a cerimônia só pôde ser realizada seis meses depois da morte. Alexandre fez questão de dirigir a carruagem fúnebre, decretando luto oficial em seu reino.
Júlio César
O romano Suetônio escreveu em seu As Vidas dos Doze Césares, livro do século 2, sobre os hábitos dos governantes do fim da república e do começo do Império Romano. Dos 12, só um deles, Cláudio, nunca teve relações homossexuais. O mais famoso, Júlio César (100-44 a.C.), teve aos 19 anos um relacionamento com o rei Nicomedes – César era o passivo. Entre todos os romanos, os mais excêntricos foram Calígula (12-41 d.C.) e Nero (37-68). O primeiro obrigava súditos a beijar seu pênis. O segundo teve dois maridos e manteve relações com a própria mãe.
Maria Antonieta
Segundo William Naphy no livro Born to Be Gay, havia um “reconhecimento generalizado da bissexualidade” da rainha da França Maria Antonieta (1755-1793). O escritor inglês Heste Thrale-Piozzi escreveu, em 1789, que a monarca encontrava-se “à cabeça de um grupo de monstros que se conhecem uns aos outros por safistas” – ou seja, lésbicas.
Ricardo Coração de Leão
As aventuras homossexuais do rei inglês Ricardo I (1157-1199) eram notórias na época. Um de seus casos, quando ele ainda era duque de Aquitânia, foi com outro nobre, Filipe II, rei da França. Uma crônica da época afirma: “Comiam os dois todos os dias à mesma mesa e do mesmo prato, e à noite as suas camas não os separavam. E o rei da França amava-o como à própria alma”. Outros monarcas europeus, como Henrique III da França (1551-1589) e Jaime IV da Escócia e I da Inglaterra (1566-1625), também tiveram vários amantes do mesmo sexo.


Oscar Wilde
O dramaturgo inglês (1854-1900) casou-se e teve dois filhos, mas também teve vários casos com homens. A relação mais marcante foi com lorde Alfred Douglas, com quem mantinha o hábito de procurar jovens operários para o sexo. O pai do amante, o marquês de Queensberry, acusou Wilde de ser sodomita. O escritor processou o nobre por difamação – e arruinou-se. Foram três julgamentos, e o marquês juntara provas de sodomia contra ele. Wilde foi condenado a dois anos de trabalhos forçados. Na prisão, definhou – e morreu pouco tempo após deixar a cadeia.
Amor na ilha de Lesbos
Há muito pouco registro do lesbianismo até o século 18. O historiador romano Plutarco dizia, no século 1, que na cidade grega de Esparta todas as melhores mulheres amavam garotas. Apesar disso, há muito pouco registro sobre o lesbianismo até pelo menos o século 18. Os termos “lesbianismo” e “lésbica”, aliás, têm origem na ilha grega de Lesbos, no mar Egeu, local de nascimento da poetisa Safo (610-580 a.C.) – seu nome originou a palavra “safismo”. Embora os livros de Safo tenham sido queimados por ordem de Gregório de Nazianzus, bispos de Constantinopla, cerca de 200 fragmentos resistiram ao tempo e ao cristianismo. Os poemas revelam uma paixão exuberante ao amor feminino, o que faz crer que a autora tenha partilhado desse sentimento. É impossível, no entanto, afirmar se a autora realmente amou as mulheres que enaltece em seus poemas – ou se era apenas uma questão de estilo. Um dos primeiros códigos legais a fazer menção ao homossexualismo feminino é um francês de 1270. Ele estabelecia que o homem que mantivesse relação homossexual deveria ser castrado e, se reincidente, morto. E também que uma mulher que tivesse relações com outra mulher perderia o “membro” se fosse pega. Que “membro” seria cortado, porém, o código não especifica.

Livros
Born to Be Gay – História da Homossexualidade, William Naphy, Edições 70, 2006
No livro, o autor faz um profundo estudo da homossexualidade desde a Antiguidade.
O Amor Entre Iguais, Humberto Rodrigues, Mythos, 2004 Traz aspectos históricos, sociais e legais sobre o assunto.
Fonte:  Aventuras na História
http://omundodeligialopes.blogspot.com/2009_09_11_archive.html
Depois desta História:
Porque as pessoas os
condena e exclui os homossexuais .   
Será que é falta de conhecimento ou é 
ignorância mesmo?